Quando minha irmã morreu,
devia ter sido assim,
um anjo moreno, violento e bom, brasileiro.
Veio ficar ao pé de mim.
Ah!
O meu anjo da guarda sorriu
e voltou para junto do senhor.
Arquivo da tag: Maria Lúcia Godoy Canta Poemas de Manuel Bandeira – 1968
Desafio
Não sou barqueiro de vela,
Mas sou um bom remador:
No lago de São Lourenço
Dei prova do meu valor!
Remando contra a corrente,
Ligeiro como a favor,
Contra a neblina enganosa,
Contra o vento zumbidor!
Sou nortista destemido,
Não gaúcho roncador:
Impossível Carinho
Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero contar-te apenas a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
– Eu soubesse repor –
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!
.
Pousa a Mão na Minha Testa
Não te doas do meu silêncio:
Estou cansado de todas as palavras.
Não sabes que te amo?
Pousa a mão na minha testa:
Captarás numa palpitação inefável
O sentido da única palavra essencial
– Amor.
Dona Janaina
Dona Janaína
Sereia do mar
Dona Janaína
De maiô encarnado
Dona Janaína
Vai se banhar.
Dona Janaína
Princesa do mar
Dona Janaína
Tem muitos amores
É o rei do Congo
É o rei de Aloanda
É o sultão-dos-matos
É São Saravá
Saravá saravá
Dona Janaína
Rainha do mar
Dona Janaína
Princesa
O Menino Dorme
O menino dorme.
Para que o menino
Durma sossegado,
Sentada ao seu lado
A mãezinha canta:
— “Dodói, vai-te embora!
“Deixa o meu filhinho,
“Dorme . . . dorme . . . meu . . .”
Morta de fadiga,
Ela adormeceu.
Então, no ombro dela,
Um vulto de santa,
Na mesma cantiga,