Bancário

Eu ainda não me acostumei
a me vestir igual a um rei
e a falar bem o português
Ir bem de manhã, terno e gravata
e ver o dia se perder na conta exata
o que me cabe terminar antes das seis
Os olhares firmes do gerente
caem sempre em minha mente
com forças maiores do que o mar
e eu, um tanto tolo e submisso
também pudera, os compromissos
que todo mês, todo mês, todo mês, tenho que pagar
Mas, mesmo assim, eu me ofereço
de corpo e alma por um preço
que, talvez, nem valha a pena comentar
Porém, com meus respeitos à boa vida
deixo a barba bem crescida
pra poder me suportar
E numa das desventuras de serviço
da janela, ouço um samba e me atiço
penso até em comemorar
mas a bebida que eu previa em minha mesa
foi trocada com tristeza
por papéis, por papéis, por papéis para calcular
Mas chega a noite e eu deixo tudo lá de lado
visto o meu blusão rasgado
e vou pra rua me encontrar
Talvez não passe de um sujeito mal cotado
pois, enfim, sou convidado
da poesia, do samba e do luar